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EU… NADA! TU NADAS!

 

 

 

 

 

 

Por: Salvina Ribeiro

 

 

Era uma descida enorme e íngreme. Tudo o resto era espaço aberto, terra vermelha, árvores e largos horizontes. A pé, de bicicleta, de mota ou de carro todos se dirigiam para um só local: a piscina municipal.

 

Ao fundo do declive, do lado esquerdo, ali estava ela para ser vivida com alegria.

 

Aquele complexo de piscinas era o orgulho dos Malanjinos: logo à entrada, do lado direito, existiam dois tanques: um para bebés e outro para crianças, ambos ladeados por um relvado sempre fresco e convidativo, que se alargava até uma bancada que servia de assento aos que ali se deslocavam para assistir às competições.

 

Ao centro exibia-se a imponente piscina para adultos, com águas límpidas e brilhantes, que realçavam o azul dos azulejos que a cobriam. O calor era intenso.

 

 

Não faltavam balneários, nem áreas lava-pés, nem chuveiros exteriores, prontos para serem usados antes e depois da utilização da piscina; as passadeiras também lá estavam para evitar que a circulação de pessoas se fizesse por cima da relva verdejante. Quem prevaricasse tinha o Senhor Sousa “à perna”.

 

Do lado oposto à entrada, ao fundo, havia um bar de apoio, com esplanada, onde muitas vezes me sentava a beber uma coca-cola e a apreciar o ambiente.

 

Mas o que seria tudo isto sem a presença das pessoas? Durante a semana havia aulas de natação dadas pelo Tenente Rebelo; cada aluno utilizava uma “prancha” de esferovite para se manter à tona da água, dando às pernas ou aos braços sob o olhar atento do professor, que corrigia, incentivava, ensinava. Foi assim – e com ele - que muitos Malanjinos aprenderam a nadar.

 

Aos sábados, domingos e feriados, a piscina enchia-se com o riso das crianças, com os mergulhos, com as entradas de pé, de frente ou de costas de jovens e adultos, com as “chapas”, com os saltos atrevidos, com o alarido habitual das “enchentes”.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Mas como poderia eu lembrar-me da piscina, sem recordar as competições que ali se realizavam? Mariposa, Crawl, Costas, Bruços... todos estes estilos bastante disputados. Os filhos do Tenente Rebelo, verdadeiras estrelas em quaisquer desportos, venciam quase todas as provas, mas nem por isso a minha irmã Arminda deixou de “arrebatar” um primeiro prémio em Bruços, façanha nada fácil quando se competia com autênticos campeões.

 

Não me lembro de nenhuma mulher se ter atrevido a saltar da plataforma de dez metros (não posso garantir que não tenha acontecido), mas lembro-me bem de ter visto inúmeras vezes o Ginha e o Malhado, tão bem acompanhados pelo Zito e pelo Zázá, executarem mágicos e arrojados saltos de anjo, de carpa, mortal ou outros, que nos sustinham a respiração por breves instantes. Nos minutos seguintes, suspirávamos de alívio e batíamos palmas. Tenho, de memória, a beleza dos movimentos e das piruetas no ar, que terminavam sempre com um voo picado em direção à água; eram saltos exímios que exigiam a concentração, a coragem e a autoconfiança, que só os grandes atletas possuem. O “galito” (meu irmão) fazia umas avarias nas plataformas de dois e quatro metros, mas na de dez metros só saltava de pé, deixando-me em suspenso sempre que o fazia.

 

Este era o ambiente naquela época gloriosa (meados dos anos sessenta) em Malanje. Eu não aprendi a nadar e era mera observadora de toda esta gente, que admirava, até mesmo pela incapacidade de me entregar aos “prazeres da água”.

 

Custa-me saber que esta Piscina Municipal, a única piscina pública de Malanje, se foi degradando ao longo dos anos, tendo atualmente como vedação, o capim.

 

Espero que a recuperem depressa, para que os moradores da nossa cidade “perdida” venham a sentir as mesmas alegrias que nós sentimos, num passado longínquo, mas sempre presente nas nossas memórias.

 

 

Quedas de Kalandula -  a última passagem malanjina

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Por: Danilson Costa

 

 

Acordamos para nosso último café da manhã em Malanje e advinhem: Milho fervido, salada, frango grelhado, Excelente, mas não é fácil para todos os dias! Pontualmente nosso Taxi já estava a nos esperar. Eu e mais dois (2) luandenses. O motorista era um senho culto, de boa conversa e principalmente boa condução. Desculpem, mas realmente não lembro o nome dele, mas deveria ser Cambolo, N´gola ou Matari, o que de qualquer forma não ajudaria muito. Parece que todos os homens desta região são batizados com um desses nomes... Existem duas estradas para Kalandula: a antiga estrada duzentos e trinta, que liga Malanje à capital do país e a nova estrada construida como alternativa enquanto se reabilitava a antiga. A primeira parece ser interessante para quem tem tempo. Paisagens bonitas, mas sem miradoiro... Como tínhamos um tempo relativamente curto, escolhemos a que iria directo ao ponto, sem sinuosidade. O trajecto levaria em torno de 1 hora ou menos. Estrada boa, práticamente uma recta. Fizemos uma paragem bem no meio do caminho para alguns registos fotograficos.

 

Finalmente chegamos em Kalandula que é a sede em torno do município. É uma sede sem grandes atractivos. Paramos na igreja cátolica e parecia próximo à entrada para o centro turístico. Para nossa surpresa havia um hotel e ficava bem na entrada de Kalandula, o que é muito importante quando se sabe o quanto se anda lá dentro...

 

Depois de devidamente alojados, partimos para a visita. A entrada não custa nada. Então fica a dica: se desejar passear por lá mais de 1 dia, reserve logo o quarto no Hotel Yolaca para os dias certos. Preparem-se para andar! Além de longas distâncias o calor é terrível e existem muitas subidas e caminhos acidentados. Se achar que não dá conta  do trajecto pode contar com os guias turístico que levam os visitantes por preços simbolicos... Fomos caminhando mesmo. Algumas construções vão aparecendo.

 

O sol deu uma pequena trégua quando entramos nas quedas que é um corredor de pedras que nos levaria até o tesouro, que todos esperam ver quando pensam em Kalandula e que foi tão divulgado na serie as 7 maravilhas de Angola. E quando avistamos, realmente percebemos o motivo de tanta expectativa. Vejam em algumas fotos os dutos laterais que seriam por onde a água escorreria até ao riacho, maravilha.

 

A partir desse ponto a caminhada se torna muito mais cansativa. A paizagem é enorme, uma miscelania de pedras e águas caindo, e para os que se aventuram até o final existe a vantagem de sobrarem poucos corajosos para atrapalhar as fotos. Visitamos tudo em aproximadamente 2 horas. Nosso esquema era de ir andando, tirar fotos, descansar e seguir andando. Para os que gostam de saber cada detalhe de cada pedra de cada monumento, recomendo pelo menos 2 dias ou mais de passeio, lembrando que a entrada é sempre a mesma e para chegar as quedas, se não conhecer, há no município guias turísticos...

 

O passeio ficou interrompido por causa da armadilha do maboque (fruto silvestre da região), estávamos bebendo alguma coisa enquanto conversávamos com o motorista sem perceber o perigo que seria comer um maboque não comestível, normalmente conhecido por Maiungo- a-M´zamba ou Mututo. No meio do mato sem medicamenos para primeiros socorros, e  se dar ao luxo de comer algo que pode ser letal? A resposta viria em breve... meu estomago começou a doer, mas eram dores fortes, já estava a lacrimejar e na hora a minha cara se fechou: o Maiongo a N´zambe mata e em Kalandula não há farmacias, não é um local seguro em caso de emergência! Seria a hora de por em prática o plano B? Voltamos para o carro. Lembram das dores de estomago? Ao entrarmos no carro só piorou, a dor é tanta que nem dava para falar nada! Ouvimos o motorista a falar bebe água rápido e vamos procurar uma farmacia! Foram uns 30 minutos tensos em que cheguei a acreditar que seria o meu último dia de vida carregado pelo maiungo a m´zambe! E se querem saber mais, vómitos de sague. Que susto!!!
 

Prontos falemos de coisas boas, em Kalandula existem diversos locais que vendem lanches e bebidas, até almoço (comemos muamba de carne seca e Quissangua), mas é bem mais caro como era de se esperar. Melhor levar tudo comprado fora... Hora de voltar. Descer sempre é mais fácil (inclusive para dores de estomago é bom lembrar). Rever o tesouro e fazer a saída triunfal de Kalandula.

Chegamos a cidade e após 1 dias sem gelados, conseguimos comer um canudo!!! Um não, 2 na verdade! Só não perguntem o preço porque é quase proibitivo... a cidade acolhia o torneio internacional de Hoquei em patins, com selções como Portugal, Espanha, incluseve a seleção de Angola. Durante a nossa estadia conseguimos agendar nosso passeio do dia seguinte que seria o estádio Palanca Negra, palco da taça Ze Dú. Nossas caras antes e depois de kalandula expressam bem como foi nosso dia... Exausto, mas felize! Que venha o Jogo...

 

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